Fragmentos do artigo do Elydio dos Santos Neto Marta Regina Paulo da Silva
Vivemos um
tempo no qual o capitalismo se expande e se reproduz sob a sua mais recente
aparência: o neoliberalismo e a globalização da economia. Esse movimento que
proclama o “fim da História” traz, por meio das palavras daqueles que o
defendem, a afirmação da inutilidade e do vazio das utopias, e diz não ser
possível outra ação a não ser a de aperfeiçoar o sistema capitalista. Para os
defensores destas idéias, não há como pensar a transformação da sociedade: o
futuro será necessariamente o capitalismo melhorado ou não será, ou seja, não
há nada de novo pela frente. E, portanto, não há mais lugar para o sonho, a
utopia e a esperança, sobretudo, quando estes têm por objetivo transformações
radicais, como é o caso da transformação da sociedade capitalista.
Tudo é muito
rápido e, dentro da lógica capitalista, “tempo é dinheiro”, não podemos perder
tempo. Corremos atrás de um tempo que nunca chega: o amanhã, depois, mais
tarde, agora não dá..., não vivemos o tempo presente. No presente corremos
atrás das informações e novidades, que nos chegam cada vez mais velozes e que
terminam por não serem apreendidas por nós, o que as torna quase sempre
descartáveis. Consumimos as novidades, engolimos o que nos chega sem apreciar o
seu sabor e, com a mesma facilidade com que engolimos também as eliminamos,
para então ingerir novas informações. Não há tempo para a digestão.
Vivemos
agitadamente o mundo, aligeiradamente a vida. Não podemos parar. Estamos
“ligados”, constantemente excitados e, justamente por isso, nada nos acontece.
Benjamim, em 1913, dizia que a máscara do adulto chama-se “experiência”, sendo
ela impenetrável, inexpressiva, sempre igual; e hoje, não
continuamos a nos esconder com tal máscara? Falas como: “eu tenho vinte anos de
experiência”, “sempre fiz assim e deu certo”, “eu sei o que estou dizendo, já
passei por isto”... não mascaram o medo que temos de nos permitir o
desconhecido, o imprevisível? Não teria tal máscara a função de nos proteger de
nós mesmos pela falta de sentido da vida, pelos sonhos não realizados, pelas
paixões não vividas, pelo isolamento, pela infância não respeitada? Tirada a
máscara o que realmente experimentamos?
A
modernidade capturou-nos com sua pretensa objetividade em detrimento de nossa
subjetividade; exaltou a razão, desprezou a paixão, o corpo; a ciência
transformou experiência em experimento, a quantificou; a infância silenciou sua
voz, acreditou ser ela inferior, inútil. A modernidade consagrou a maioridade,
entendida como racionalidade, maturidade, emancipação e liberdade. Estamos
fadados a fazer necessariamente este caminho? A experiência como constitutiva
do modo humano de ser está para sempre destruída? Ou existirão outros modos de
ver o mundo e a vida que nos permitam retornar às origens infantis da
experiência?.
No hay comentarios:
Publicar un comentario