jueves, 6 de marzo de 2014

insuportabilidade cotidian

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Fragmentos do artigo do Elydio dos Santos Neto Marta Regina Paulo da Silva

Vivemos um tempo no qual o capitalismo se expande e se reproduz sob a sua mais recente aparência: o neoliberalismo e a globalização da economia. Esse movimento que proclama o “fim da História” traz, por meio das palavras daqueles que o defendem, a afirmação da inutilidade e do vazio das utopias, e diz não ser possível outra ação a não ser a de aperfeiçoar o sistema capitalista. Para os defensores destas idéias, não há como pensar a transformação da sociedade: o futuro será necessariamente o capitalismo melhorado ou não será, ou seja, não há nada de novo pela frente. E, portanto, não há mais lugar para o sonho, a utopia e a esperança, sobretudo, quando estes têm por objetivo transformações radicais, como é o caso da transformação da sociedade capitalista.
Tudo é muito rápido e, dentro da lógica capitalista, “tempo é dinheiro”, não podemos perder tempo. Corremos atrás de um tempo que nunca chega: o amanhã, depois, mais tarde, agora não dá..., não vivemos o tempo presente. No presente corremos atrás das informações e novidades, que nos chegam cada vez mais velozes e que terminam por não serem apreendidas por nós, o que as torna quase sempre descartáveis. Consumimos as novidades, engolimos o que nos chega sem apreciar o seu sabor e, com a mesma facilidade com que engolimos também as eliminamos, para então ingerir novas informações. Não há tempo para a digestão.
Vivemos agitadamente o mundo, aligeiradamente a vida. Não podemos parar. Estamos “ligados”, constantemente excitados e, justamente por isso, nada nos acontece. Benjamim, em 1913, dizia que a máscara do adulto chama-se “experiência”, sendo ela impenetrável, inexpressiva, sempre igual; e hoje, não continuamos a nos esconder com tal máscara? Falas como: “eu tenho vinte anos de experiência”, “sempre fiz assim e deu certo”, “eu sei o que estou dizendo, já passei por isto”... não mascaram o medo que temos de nos permitir o desconhecido, o imprevisível? Não teria tal máscara a função de nos proteger de nós mesmos pela falta de sentido da vida, pelos sonhos não realizados, pelas paixões não vividas, pelo isolamento, pela infância não respeitada? Tirada a máscara o que realmente experimentamos?
A modernidade capturou-nos com sua pretensa objetividade em detrimento de nossa subjetividade; exaltou a razão, desprezou a paixão, o corpo; a ciência transformou experiência em experimento, a quantificou; a infância silenciou sua voz, acreditou ser ela inferior, inútil. A modernidade consagrou a maioridade, entendida como racionalidade, maturidade, emancipação e liberdade. Estamos fadados a fazer necessariamente este caminho? A experiência como constitutiva do modo humano de ser está para sempre destruída? Ou existirão outros modos de ver o mundo e a vida que nos permitam retornar às origens infantis da experiência?.

Cassino 6 de marzo de 2014

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